3 de novembro de 2008

Rei Lear

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Referência:

Shakespeare, William. Rei Lear. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2001.

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Comentário:

Um rei divide suas terras entre suas filhas para se aposentar e acaba descobrindo que o poder mostra a verdadeira face de cada um.

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Trechos selecionados:

Bobo (para Lear - cantando):
" Os bobos perdem o emprego // Pois os sábios vieram em bando // E como não têm juízo // Vivem nos macaqueando." (p. 32)

Bobo (para Lear): "Repartiste teu juízo à esquerda e à direita e acabste ficando sem nada no centro..." (p. 33)

Lear (para Kent): "...onde se alojou a dor maior mal se percebe a dor menor"
(...)
Lear (idem):"Quando a alma está em sossego, o corpo é mais sensível: a tempestade da minha alma apaga em meus sentidos toda outra sensação senão a que dói aqui." (p. 76)

Lear (conversando com Kent e Bobo): "Pompa do mundo, é este o teu remédio; expõe-te a ti mesmo no lugar dos desgraçados, e logo aprenderás a lhes dar o teu supérfluo, mostrando um céu mais justo" (p. 77)

Lear (sobre Edgar, que se apresenta como mendingo louco): "O homem é apenas isto? Observem-no bem. Não deve a seda ao verme, a pele ao animal, a lã à ovelha, nem seu odor ao almiscareiro. (...) O homem, sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado." (ps. 79 e 80)


Gloucester a Edgar (achando que ele é um louco andarilho): "Céus, fazei sempre assim! Fazei com que o homem rodeado do supérfluo e saturado dos prazeres, que põe as vossas leis a seu serviço, e não quer ver porque não sente, sinta imediatamente o vosso poder; assim a distribuição destruiría o excesso e cada homem teria o necessário." (ps. 97 e 98)

Albânia (para a esposa Goneril): "Eu temo o teu caráter; um ser que despreza a própria origem não pode ser contido em nenhum limite." (p. 99)
(...)
Albânia (idem): "Sabedoria e bondade aos vis parecem vis. A imundície adora-se a si própria."


Rei Lear e Gloucester, quando G. revela que ficou cego!

Lear: "Como, estás louco? Mesmo sem olhos um homem pode ver como anda o mundo. Olha com as orelhas. Vê como aquele juiz ofende aquele humilde ladrão. Escuta com o ouvido, troca os dois de lugar, como pedras nas mãos; qual o juiz, qual o ladrão? (p. 113)

Lear: Já viste um cão da roça ladrar prum miserável? (...) E o pobre diabo correr do vira-latas? Pois tens aí a imponente imagem da autoridade; até um vira-lata é obedecido quando ocupa um cargo." (p.113)
(...)
Lear: "Oficial velhaco, suspende a tua mão ensangüentada! Por que chicoteias essa prostituta? Desnuda tuas próprias costas. Pois ardes de desejo de cometer com ela o ato pelo qual a chicoteias." (p.113)
(...)
Lear: "Cobre o crime com placas de ouro e, por mais forte que seja a lança da justiça, se quebra inofensiva. Um crime coberto de trapos a palha de um pigmeu o atravessa." (p. 113)


Lear (para Edgar):"Assim que nós nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos." (p. 114)


Edgar (para Edmundo): "Os deuses são justos, e nos castigam com nossos vícios mais doces." (p. 133, sobre o pai ter gerado um filho traidor a partir de um adultério)

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