17 de dezembro de 2008

A Alma Imoral - seleção 1 de 5

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Referência:


BONDER, Nilton. A Alma Imoral - Traição e tradição através dos tempos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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Comentário:


Amei esse livro! Nilton Bonder nos remete à profunda reflexão sobre a vida em sociedade e nós mesmos. Vai render vááários posts! ;o))))

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Trechos selecionados:


"É interessante notar que, quando o Criador comanda, está em sua mais plena função de estabelecer diretrizes ao que cria; quando proíbe, no entanto, abre a porta para uma dimensão de co-criação. Admitir que é possível para a criatura fazer algo que não pode é chamá-la a criar junto, seja pela obediência ou pela transgressão. Perceba-se que mesmo a obediência ao que é proibido é distinta da obediência ao que é comandado. Obedecer ao proibido por opção é de ordem evolucionária, como também a transgressão." (p. 14)

"Transgredir é transcender, e nossa história não teria mártires no campo político, científico, religioso, cultural e artístico caso fosse possível transcender sem colocar em risco a sobrevivência da espécie.
(...)
Se por sede de poder alguém rompe com o senso comem da melhor ordem para a preservação e reprodução de nossa espécie, é um fora-da-lei. O traidor, por sua vez, é um transgressor. Ele propõe outra lei e outra realidade. Se alguém rompe com uma estrutura tradicional de família, se pode ser caracterizado como um perverso, este tem seu lugar garantido na sociedade. Ele é o que não se deve fazer. Ele tem uma função importante e terá suas regalias asseguradas enquanto assumir a condição de errado. Tal condição é particular e toda sociedade tem espaço para um certo número de casos. No entanto, se o rompimento com a estrutura familiar é acompanhado de um desejo de legitimação dessa conduta, esse indivíduo é inaceitável e um bom candidato ao martírio." (pgs 18 e 19)

“Muitas vezes a palavra ‘fraco’ é associada ao traidor, quando o que este menos representa é ‘fraqueza’. É preciso muita coragem para trair, porque o traidor se expõe ao revelar segredos de sua intimidade” (p. 36)

“A transgressão das próprias convicções é essencial.” (p. 42)

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16 de dezembro de 2008

Laranja Mecânica (filme)

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Referência:

Laranja Mecânica (Clockwork Orange). Direção: Stanley Kubrick. Roteiro: Stanley Kubrick. Baseado no livro homônimo de Anthony Burgess. Estados Unidos, 1971.

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Comentário:

Violento e coloridíssimo. Intrigante, inteligente. Mas pra mim, só dá pra ver uma vez... não sou muito afeita às questões de violência física ou psicológica gratuita, que é exatamente o tema do filme.

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Trechos selecionados:

Padre (na prisão):
"A questão é se essa técnica [de Ludovico] faz o homem realmente ficar bom. A bondade vem de dentro. A bondade é escolhida. Quando um homem não pode escolher, deixa de ser homem".

Ludovico:
"Vejam bem, senhoras e senhores, o paciente é impelido para o bem paradoxalmente por ser impelido para o mal"

Padre (para Ludovico):
"Escolha. Ele não tem escolha, certo? O interesse próprio, o medo da dor física levaram-no a este grotesco ato de humilhação. (...) Ele deixa de ser um malfeitor, mas deixa também de ser uma criatura capaz de escolhas morais!"

Ludovico (para padre):
"Padre, isso são sutilezas! Não estamos preocupados com motivos, com éticas elevadas, mas apenas com a diminuição da criminalidade e com a solução para a superlotação de nossas prisões."

Frank (na casa de campo):
"Sua plataforma é o modo como vem lidando com a crime nos últimos meses: recrutando jovens violentos para a polícia e propondo técnicas destrutivas de condicionamento. Já vimos isso acontecer em outros países. É a ponta do iceberg. Quando nos dermos conta, o regime totalitário estará em pleno vigor."
(...)

"O povo renuncia a ela. Vendem a liberdade por um vida tranqüila."






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2 de dezembro de 2008

Fedra

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Referência:

Versão digitalizada e disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/fedra.html

RACINE, Jean Baptiste. Fedra. Tradução: Sebastião Francisco de Mendo Trigoso. In: Teatro Francês. Coleção Clássicos Jackson. Vol. XXVIII. Rio de Janeiro: Editora W. M. Jackson Inc., 1950.

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Comentário:

Racine buscou uma história da mitologia greco-romana e a reescreveu, mas com foco em Fedra, personagem que dá nome à sua obra, como que contando o "lado dela" da história. Não sei exatamente qual o mito (seria de Hipólito?).

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Trechos selecionados:

Arícia:
Mais soberba, desprezo a fácil glória
D'incensos, a mil outras ofertados
D'entrar num coração patente de todas.
Domar, porém um ânimo inflexível,
Levar a dor a uma alma que não a sente,
Ter um cativo, atônito dos ferros
Contra um jugo que apraz em vão rebelde;
Eis meu gosto, só isto m'estimula.
(pgs. 11 e 12)

Hipólito:
Minha vida observai, e quem sou vede.
Alguns crimes precedem grandes crimes.
Quem da virtude transgrediu a meta,
Por fim quebra os direitos mais sagrados.
Como a virtude, tem degraus o vício;
Jamais se viu a tímida inocência
Passar dum salto à licença extrema;
Um mortal com virtude, só num dia
Não se torna assassino, incestuoso.
(pg. 25)

Enone:
Vós amais. Ninguém vence o destino.
Por encanto fatal foste arrastada.
Prodígio é este acaso nunca ouvido?
Só de vós o amor tem triunfado?
Natural aos mortais é a fraqueza.
Mortal, duma mortal sofreis a sorte.
Queixai-vos d'opressão já muito antiga.
Os deuses mesmo, que no Olimpo habitam,
Que são terríveis sobre os crimes troam,
Ilegítimo amor às vezes sentem.
(pg. 29)

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3 de novembro de 2008

Rei Lear

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Referência:

Shakespeare, William. Rei Lear. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2001.

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Comentário:

Um rei divide suas terras entre suas filhas para se aposentar e acaba descobrindo que o poder mostra a verdadeira face de cada um.

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Trechos selecionados:

Bobo (para Lear - cantando):
" Os bobos perdem o emprego // Pois os sábios vieram em bando // E como não têm juízo // Vivem nos macaqueando." (p. 32)

Bobo (para Lear): "Repartiste teu juízo à esquerda e à direita e acabste ficando sem nada no centro..." (p. 33)

Lear (para Kent): "...onde se alojou a dor maior mal se percebe a dor menor"
(...)
Lear (idem):"Quando a alma está em sossego, o corpo é mais sensível: a tempestade da minha alma apaga em meus sentidos toda outra sensação senão a que dói aqui." (p. 76)

Lear (conversando com Kent e Bobo): "Pompa do mundo, é este o teu remédio; expõe-te a ti mesmo no lugar dos desgraçados, e logo aprenderás a lhes dar o teu supérfluo, mostrando um céu mais justo" (p. 77)

Lear (sobre Edgar, que se apresenta como mendingo louco): "O homem é apenas isto? Observem-no bem. Não deve a seda ao verme, a pele ao animal, a lã à ovelha, nem seu odor ao almiscareiro. (...) O homem, sem os artifícios da civilização, é só um pobre animal como tu, nu e bifurcado." (ps. 79 e 80)


Gloucester a Edgar (achando que ele é um louco andarilho): "Céus, fazei sempre assim! Fazei com que o homem rodeado do supérfluo e saturado dos prazeres, que põe as vossas leis a seu serviço, e não quer ver porque não sente, sinta imediatamente o vosso poder; assim a distribuição destruiría o excesso e cada homem teria o necessário." (ps. 97 e 98)

Albânia (para a esposa Goneril): "Eu temo o teu caráter; um ser que despreza a própria origem não pode ser contido em nenhum limite." (p. 99)
(...)
Albânia (idem): "Sabedoria e bondade aos vis parecem vis. A imundície adora-se a si própria."


Rei Lear e Gloucester, quando G. revela que ficou cego!

Lear: "Como, estás louco? Mesmo sem olhos um homem pode ver como anda o mundo. Olha com as orelhas. Vê como aquele juiz ofende aquele humilde ladrão. Escuta com o ouvido, troca os dois de lugar, como pedras nas mãos; qual o juiz, qual o ladrão? (p. 113)

Lear: Já viste um cão da roça ladrar prum miserável? (...) E o pobre diabo correr do vira-latas? Pois tens aí a imponente imagem da autoridade; até um vira-lata é obedecido quando ocupa um cargo." (p.113)
(...)
Lear: "Oficial velhaco, suspende a tua mão ensangüentada! Por que chicoteias essa prostituta? Desnuda tuas próprias costas. Pois ardes de desejo de cometer com ela o ato pelo qual a chicoteias." (p.113)
(...)
Lear: "Cobre o crime com placas de ouro e, por mais forte que seja a lança da justiça, se quebra inofensiva. Um crime coberto de trapos a palha de um pigmeu o atravessa." (p. 113)


Lear (para Edgar):"Assim que nós nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos." (p. 114)


Edgar (para Edmundo): "Os deuses são justos, e nos castigam com nossos vícios mais doces." (p. 133, sobre o pai ter gerado um filho traidor a partir de um adultério)

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23 de outubro de 2008

Escrever para crianças (carta)

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Referência:

In: France, Anatole. O Artista. Ed. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes), SP: 2004.

Infos: livros@imprensaoficial.com.br e 0800-0123401 (em SP: 11-6099-9725)

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Comentário:

Da bienal de 2007!

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Trecho selecionado:

Carta à Srta. D*

"É notório que as crianças demonstram quase sempre profunda repugnância pela leitura de livros escritos para elas. Desde as primeiras páginas elas sentem que o autor se esforçou para entrar no reino delas, em lugar de as transportar para o dele e que, portanto, não encontrarão, levadas por ele, a novidade, o desconhecido de que está sedenta a alma humana em qualquer idade. Os pequenos são tomados da curiosidade que faz os sábios e os poetas. Querem que lhes seja revelado o universo, o universo místico. Os autores que se curvam diante deles e os mantêm na contemplação de sua própria infância, aborrecem-nos cruelmente."

(...)

"Quando escreverem para crianças, não se preocupem em fazê-lo de modo especial. Pensem muito bem e escrevam muito bem. Que tudo tenha vida, seja grande, amplo e poderoso em sua história. Eis o único segredo para agradar os leitores."

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10 de outubro de 2008

Clarice Lispector no CCBB - RJ (exposição)

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Referência:

Trechos de uma entrevista de Clarice Lispector concedida em 1977 para a TV Cultura.

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Comentário:

Como peguei na exposição (em outubro de 2008), não tenho certeza absoluta da referência... e são trecho pequeninos. Exposição linda, por sinal!

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Trechos selecionados:

"Às vezes isso de me chamarem de escritora me isola. Pq me coloca um rótulo. Tudo o que digo, a maior bobagem, vira uma coisa linda com essa coisa boba... Tudo por causa disso, de ser escritora."

"Eu escolhi os livros pelos títulos e não pelos autores pq eu não conhecia nada." [sobre os livros que leu]

"Sei lá, tô meio cansada de mim mesma. "

"Bom, agora eu morri. Vamos ver se eu renasço de novo. Por enquanto, estou morta." [sobre a fase "entre" escritas de seus livros]

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Mais infos:

Achei a entrevista no youtube, mas confesso que não conferi o material... mas seguem os links pra quem quiser conferir:
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=2Orgxd9bD_c
Parte 4: http://www.youtube.com/watch?v=ptCJzf20rbY
Parte 5: http://www.youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA

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17 de setembro de 2008

Fahrenheit 451 (filme)

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Referência:

Fahrenheit 451. Título original: Eternal Sunshine of the Spotless Mind. Direção: François Truffaut. Roteiro: François Truffaut e Jean-Louis Richard. Baseado no livro homônimo de Ray Bradbury. Estados Unidos, 1966.

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Comentários:

Spoiler! Se não viu o filme, não leia!


O meu filme prefereido. Ponto final. ;o)

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Trechos selecionados:

"Cada bombeiro, pelo menos uma vez na sua carreira, tem muita vontade de saber o que tem nos livros. Até dói de querer saber, não é verdade? Acredite em mim, Montag, não tem nada. Os livros não têm nada a dizer. Olhe estes: são todos romances, todos sobre pessoas que nunca existiram. As pessoas que os leêm tornam-se infelizes com as suas vidas. Faz com que elas queiram viver de uma maneira quase impossível."

(...)

"Toda essa filosofia: vamos nos livrar dela! É ainda pior que o romance. Pensadores, filósofos... todos dizem a mesma coisa: 'eu é que tenho razão, todos os outros são idiotas'. Em um século, dizem-nos que o destino do homem está pré-definido. No seguinte, dizem que ele tem liberdade de escolha. Não passa de uma moeda, só isso. Filosofia! Tal qual vestidos curtos este ano, vestidos compridos no próximo. Olhe! Todas estas histórias sobre mortos. Chama-se biografia e auto-biografia. 'A minha vida'. 'O meu diário'. 'As minhas memórias'. 'As minhas memórias íntimas'. Claro que, quando começaram, era apenas uma vontade de escrever. Depois, após o segundo livro, queriam apenas satisfazer a sua vaidade. Destacar-se no meio da multidão. Ser diferente. Poder olhar para os outros como se estivesse em um pedestal."



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7 de setembro de 2008

Viver a tese é preciso! (artigo)

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Referência:

FREITAS, Maria Ester de. Viver a tese é preciso! In: BIANCHETTI, Lucídio; MACHADO, Ana Maria Netto (org). A Bússola do Escrever - Desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações (p. 220). Florianópolis/ São Paulo: Editora UFSC/ Cortez Editora, 2002.

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Comentário:

O texto é sobre teses e dissertações, mas achei tão interessante pq se aplica a quase toda criação! ;o)

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Trecho selecionado:

"O que chamamos de inspiração é a capacidade de reter e ampliar, com um toque próprio e único, um flash ou insight, uma coisinha de nada que atravessa o nosso pensamento e pode fugir. Porém, boa parte dessa inspiração é fruto da nossa capacidade de concentração, de disciplina, de esforço mental e até de teimosia. Precisamos não de um dia bonito de céu azul, mas de uma boa dose de paciência para produzir alguma coisa interessante, para organizar raciocínios, transformar barro em tijolos e tijolos em casas."

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