26 de maio de 2009

Escola de Mulheres - seleção 2 de 2

===================================================

Referência:

Molière. Escola de Mulheres. Tradução: Millôr Fernandes. São Paulo: Círculo do Livro. (não tem data de publicação).

------------------------------------------------------------------

Comentário:

Este livro foi traduzido do original em francês, cujo título é " Lécole des Femmes" e o nome verdadeiro de Molière era Jean-Baptiste Poquelin.

Arnolfo é um burguês esnobe e afetado. Ele tutela uma camponesa de origem pobre desde 6 anos de idade. Como parte de um plano para não ser corno, ele lhe garante uma educação bem porca, para que ela seja mesmo uma ignorante eternamente grata à condição social que tal casamento lhe traria. No entanto, a moça, Inês, se apaixona por um rapaz, Horácio.

Neste trecho, Arnolfo dá à Inês uma cartilha para que ela estude e se prepare para o casamento deles dois.

------------------------------------------------------------------

Trechos selecionados:

"Inês (Lê.)
Lições do casamento ou os deveres da mulher casada. Com exercícios diários.

Primeira lição
A mulher que uma união legal
leva ao leito de um homem
não esqueça esta moral:
apesar do que se vê por aí,
o homem que a tomou,
tomou-a só pra si.

Segunda lição
Só se deve enfeitar
até onde o desejar
omarido que a sustenta;
pois só a ele interessa
sua pele lisa ou sardenta.
A uma esposa recomenda
que outros a achem horrenda.

Terceira lição
Longe expressões estudadas
óleos, pinturas, pomadas,
esses mil ingredientes
que fazem um rosto querido.
Usados diariamente
são drogas mortais pra honra:
esse sacrifício todo raramente é pro marido.

Quarta lição
Ao sair, como a virtude ordena,
deve esconder debaixo de um capuz
a indiscrição do olhar.
Para agradar totalmente ao marido
a ninguém mais deverá agradar.

Quinta lição
Fora dos que o marido convida,
não deve dar acolhida
nem receber mais ninguém.
Esses galanteadores
que só tratam com as senhoras
enfeitam muito os senhores.

Sexta lição
Dos homens, qualquer presente
tem que recusar, veemente.
Pois a época é safada:
ninguém dá por nada.

Sétima lição
Por mais que isso a aborreça
caneta, tinta e papel
deve tirar da cabeça.
A ignorância é um escudo.
Num lar realmente honrado
o marido escreve tudo.

Oitava lição
Jantar de muito talher
- em geral de caridade! -
corrompe sempre a mulher.
Deve pois ser proibido,
pois é lá que se conspira
contra a testa do marido.

Nona lição
Para a honra conservar
o jogo tem que evitar
como um defeito funesto,
pois o vício enganador
leva a mulher, muitas vezes,
a perder o jogo e o resto.

Décima lição
Não deve andar na roda
de piqueniques no campo
nem de festinhas da moda,
pois sabem os experientes
que todo esse circular,
de uma ou de outra maneira,
o marido é que vai pagar."

(pgs. 55 a 57)


===================================================

11 de maio de 2009

Escola de Mulheres - seleção 1 de 2

===================================================

Referência:

Molière. Escola de Mulheres. Tradução: Millôr Fernandes. São Paulo: Círculo do Livro. (não tem data de publicação).

------------------------------------------------------------------

Comentário:

Gente, estou lendo Molière e ele é fantástico!!!! Engraçadíssimo e inteligentíssimo. Realmente é "O cara"!

Este livro foi traduzido do original em francês, cujo título é " Lécole des Femmes" e o nome verdadeiro de Molière era Jean-Baptiste Poquelin.

Arnolfo é um velho que decide casar com uma camponesa pobre bem mais nova que ele. Como costume da época (provavelmente a peça é de 1662), Arnolfo teria se oferecido para tutelar a jovem Inês, dando-lhe moradia e educação, mas ele tb a mantém isolada da sociedade para garantir sua ingenuidade e pureza.

Crisaldo é um vizinho.

------------------------------------------------------------------

Trechos selecionados:

Arnolfo [p/ Crisaldo]:
"... Acho que no teu casamento você encontra motivos para recear pelo meu. Na tua cabeça, é evidente, existe a certeza de que os chifres são o adorno infalível de qualquer matrimônio.

Crisaldo:
São acidentes contra os quais ninguém está garantido; e quem se preocupa com isso não passa de um idiota."
(págs. 7 e 8)


Arnolfo:
"... mas uma mulher esperta é mau presságio; eu sei o que custou a alguns casarem com mulheres cheias de talentos; me caso com uma intelectual, interessada aprenas em conversas de alcova, escrevendo maravilhas em prosa e verso, freqüentada por marqueses e gente de espírito, e fico sendo apenas o marido de madame, discreto a um canto, como um santo sem crentes. Não, não. Agradeço esses espíritos cheios de sutilezas. Mulher que escreve sabe mais do que é preciso."
(pg 10)



Crisaldo:
"Que absurdo; abandonar o nome dos pais e adotar outro, baseado apenas em quimeras. Muita gente hoje em dia não resiste a isso, e - sem que haja no que conto qualquer comparação - conheço um tipo chamado Pedroso que, nada tendo de seu além de um pequeno quintal, mandou abrir uma vala em volta dele e passou a se chamar pelo nome pomposo de Barão da Ilha."
(pg. 14)


===================================================

10 de maio de 2009

Hamlet - seleção 4 de 4

===================================================

Referência:

Shakespeare, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

------------------------------------------------------------------

Comentário:

A fina ironia de Shakespeare caçoando dos puxa-sacos do Rei!

------------------------------------------------------------------

Trechos selecionados:

"Polônio: Meu Princípe, a Rainha gostaria de lhe falar. E imediatamente.

Hamlet: Estás vendo aquela nuvem ali, quase em forma de camelo?

Polônio: Pela santa missa, eu diria que é um exato camelo.

Hamlet: Pois me parece mais um esquilo.

Polônio: É; tem a corcova de um esquilo.

Hamlet: Ou será uma baleia?

Polônio: É! Uma perfeita baleia.

Hamlet: Então vou ver minha mãe agora mesmo. (À parte) Brincam comigo até onde eu aguente. (Aos outros) Eu volto logo."

(pág. 83)


===================================================

Hamlet - seleção 3 de 4

===================================================

Referência:

Shakespeare, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

------------------------------------------------------------------

Comentário:

Frases famosas! A última citação não é famosa, mas eu gosto! ;o)


------------------------------------------------------------------

Trechos selecionados:

"Há mais coisas no céu e na terra, Horácio,
Do que sonha a tua filosofia."
(pág. 40)


"Ser ou não ser - eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias -
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer - dormir -
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte -
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante - nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz de todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação."
(pág. 67)


"Ó, coração, não esquece tua natureza; não deixa
Que a alma de Nero entre neste peito humano.
Que eu seja cruel, mas não desnaturado.
Minhas palavras serão punhais lançados sobre ela;
Mas meu punhal não sairá do coldre.
Que, neste momento, minha alma e minha língua sejam hipócritas;
Por mais que as minhas palavras transbordem em desacatos
Não permita, meu coração, que eu as transforme em atos!"
(pág. 83

===================================================

8 de maio de 2009

Hamlet - seleção 2 de 4

===================================================

Referência:

Shakespeare, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

------------------------------------------------------------------

Comentário:

Hamlet é o príncipe da Dinamarca e Polônio é um camarista do Rei (e um tremendo puxa-saco).


------------------------------------------------------------------

Trechos selecionados:

Hamlet (a Polônio, se referindo aos atores):"... É preferível você ter um mau epitáfio depois de morto do que ser difamado por ele, enquanto vivo."
(pg. 62)


"Hamlet:...
Não é monstruoso que esse ator aí,
Por uma fábula, uma paixão fingida,
Possa forçar a alma a sentir o que ele quer,
De tal forma que seu rosto empalidece,
Tem lágrimas nos olhos, angústia no semblante,
A voz trêmula, e toda sua aparência
Se ajusta ao que ele pretende? E tudo isso por nada!"
(pg. 63)

"... Ouvi dizer
Que certos criminosos, assistindo a uma peça,
Foram tão tocados pelas sugestões das cenas,
Que imediatamente confessaram seus crimes;
Pois embora o assassinato seja mudo,
Fala por algum órgão misterioso. (...)"
(pág. 64)

===================================================